Vinte
princípios para a educação empreendedora.
Mitos e
equívocos
Fernando
Dolabela
Consultor
da CNI-IEL, CNPq, Softex, Fundação Dom Cabral, AED, ANPROTEC, autor do livro " O
segredo de Luísa" , do software de
Plano de Negócios MakeMoney e de vários livros na área de empreendedorismo.
A revolução
silenciosa do empreendedorismo, frase cunhada por Timmons[1]
referindo-se aos Estados Unidos, começa a ganhar as suas primeiras batalhas
também no Brasil. Lá, o silêncio refere-se a mudanças de valores. A elite americana
está mudando[2]. O
personagem mais admirado pelos jovens passa a ser empreendedor de sucesso, que
substitui, como modelo na escala social, o WASP e a meritocracia do saber. Para
se ter uma idéia, somente ex-alunos do MIT criaram empresas cujo faturamento
somado seria o 24o PIB do mundo.
No Brasil, a
revolução é também silenciosa, mas por
motivos diferentes: não repercute na grande imprensa, nos meios
políticos, nas conversas das elites, nas grandes conferências, nas
universidades. Na nossa terra ninguém gosta da micro e pequena empresa,
justamente o resultado mais direto do trabalho do empreendedor. Será exagero
dizer isto? Então vejamos. Quem gosta da MPE? O banco gosta de emprestar para
uma micro empresa, com a sua reconhecida instabilidade financeira e
precariedade de garantias? Por que a universidade toma a grande empresa como
referência para o ensino de administração e, na esmagadora maioria dos
currículos, desconhece a MPE? Os poderes
instituídos, executivo e legislativo, ao tratarem ou maltratarem a PME com
sistemas legais e regulatórios inadequados, ao não se preocuparem com oferta
suficiente de seed money, capital de risco e financiamentos, demonstram o seu
desinteresse pela micro e pequena empresa. Os jovens, ávidos pela antiga
estabilidade hoje existente somente na memória dos pais, mantém o anacrônico
fascínio por um emprego nas grandes empresas e no governo. A mãe, ao ver o
filho recém formado entrar para uma incubadora, deixa sorrateiramente junto ao
seu travesseiro a página de anúncio de empregos da edição dominical do maior
jornal. E qual a reação da futura sogra, ao receber o candidato a genro,
proprietário de uma pequena empresa, ou seja, alguém sem eira, nem beira ?
Também nós,
cidadãos de todas as classes, não votamos em candidatos que defendam a pequena
empresa. Também pudera, nunca vi um deles. A pequena empresa não dá voto.
Esta
generalizada aversão sócio-cultural à MPE existe apesar dela sustentar
mais de 60 milhões de brasileiros. É um
paradoxo? Mais um capricho brasileiro? Nem
mesmo o próprio empreendedor gosta de ser micro ou pequeno. O mito (importado)
é ser grande. Só um sonhador pode sentir-se bem em um país em que a MPE é a
vilã da economia e o herói da capa de revista é o empreendedor que fatura
milhões. Mesmo que a sua empresa em vez de oferecer, subtraia valor da
sociedade.
Exagero?
Evidentemente há exceções. Com uma lupa de alto poder pode-se encontrar micro
empreendedores felizes porque ousaram sonhar. Eles geralmente estão em
incubadoras, ou saíram de alguma sala de aula de alguns professores
universitários que teimam em desafiar o sistema.
Este é o
quadro geral do empreendedorismo. Ninguém deseja a pequena empresa, mas não há
como negar a sua importância. Os motivos
são radicais: ela gera nova tecnologia, distribui renda, conhecimento. Cria
novos empregos, enquanto as grandes demitem em todo o mundo. É a micro e
pequena empresa, no continuo nascer e desaparecer que dá dinamismo à economia.
Ela é a solução para o país que quer se desenvolver e para o jovem que quer trabalho.
A grande empresa (apesar de sua relevância para a economia) e o estado perderam
a sua capacidade de ser a principal fonte de empregos. Pelo contrário, demitem.
Nos nossos tempos o novo caminho, a via natural, é a pequena empresa. As
futuras sogras devem começar a tirar o mofo da prataria para receber o
candidato a genro proprietário de um pequeno negócio. Mães devem esconder o
jornal com o anúncio de emprego na grande empresa: ela não é um bom ambiente
para os seu filhos queridos.
Além disto,
aumentando o interesse na área, o conceito de empreendedorismo extrapolou a
empresa. Ele está hoje em todas as áreas: no governo, no terceiro setor. As
empresas estão buscando o empregado empreendedor, alguém capaz de inovar, de
criar novos produtos ou serviços de sucesso.
Mas nada do
que foi dito empresta tanta imponência ao empreendedorismo como a percepção
dominante nos meios científicos de que ele, o empreendedor, agora e desde
sempre, ou seja, a partir do momento em que o ser humano usou a criatividade para
melhorar as suas condições de vida, a sua relação com a natureza e com os
semelhantes, é o elemento central no processo de desenvolvimento humano, social
e econômico. A percepção da importância
do empreendedor é recente; o fenômeno em si tem a idade da civilização. Se é
modismo, falamos de uma moda que já dura cerca de 10 mil anos.
Há outro
motivo pelo qual a revolução do empreendedorismo no Brasil é silenciosa. Ela
está usando como principal arma o ensino, outro setor no Brasil que não faz
barulho. Pelo contrário, é envolto no silêncio dos temas desimportantes, nos
segredos urdidos pela ausência da democracia, na surdina das culpas inconfessas
geradas pela vontade das classes dominantes de que tudo permaneça como está. O
conhecimento, a educação, único caminho para a libertação e o desenvolvimento,
ainda é coisa distante das nossas maiorias discriminadas.
Mas a verdade
é que o ensino de empreendedorismo no Brasil está se propagando em progressão
geométrica. Graças a instituições como o CNPq, Softex, CNI, IEL, Sebrae
Nacional, ANPROTEC e várias universidades. Estamos diante da explosão de um
movimento que começou há pouco mais que uma década no Brasil. Não será demais
afirmar que em poucos anos todas as universidades e instituições de segundo
grau terão o ensino de empreendedorismo em seu currículo.
Diante deste
quadro, é conveniente que o debate sobre a educação empreendedora seja ampliado
e se insira nos ambientes preocupados com o desenvolvimento humano, social e
econômico do País, porque este deve ser o tema central do ensino do
empreendedorismo.
A seguir, ao
descrever o que chamo de 20 princípios da educação empreendedora, tento
destruir mitos que encontrei ao atingir 10 anos e 1.000.000 de quilômetros
dedicados à educação empreendedora, dando várias voltas completas neste país,
aprendendo sobre seus rostos, suas cores, seus sonhos, sua miséria.
Concebi
metodologias de ensino, descritas em 5 livros e dezenas de artigos publicados
em congressos nacionais, internacionais, jornais e revistas especializadas,
para todos os níveis escolares: pré-escola, fundamental, segundo grau,
universitário. E também para funcionários do governo e pessoas do terceiro
setor.
As idéias
descritas abaixo foram apresentadas, discutidas e aprimoradas por cerca de 2000
professores que participaram dos meus seminários e implementaram a metodologia
em mais de 200 instituições de ensino em todo o país.
Vamos então
aos 20 princípios. Eles se referem às preocupações básicas que devem ser
enfrentadas por uma proposta de educação empreendedora no Brasil.
Princípio 1
– Explicitar objetivamente uma intencionalidade.
A quem serve,
no Brasil, a educação empreendedora? Qual o tema central do empreendedorismo na
nossa sociedade? O empreendedorismo deve ter como objetivo a construção do
desenvolvimento humano e social. Deve ser um instrumento de geração e de
distribuição de riqueza, conhecimento, poder e renda. Em outras palavras: o
empreendedorismo não é uma preocupação individual, mas da comunidade, da
região, do país. Crescer economicamente concentrando renda, riqueza e poder, e
gerando graves desigualdades sociais, é algo que já sabemos fazer. Há séculos.
Princípio 2
– Adotar uma postura ética
Toda proposta
pedagógica é também uma proposta ética. A bandeira do ensino de empreendedorismo
deve ter como prioridade a eliminação da pobreza e da exclusão social. O resultado do trabalho empreendedor, na
empresa, no governo e no terceiro setor deve ser a geração de valor para toda a
comunidade. Um índice ético de avaliação dos resultados das empresas
deveria ser o grau de utilidade que ela
oferece para a comunidade. Temos o hábito de dar importância exclusiva ao
faturamento/lucro, estando a empresa somando ou subtraindo valor para a
sociedade. Uma empresa que produz poluentes mas tem alto faturamento é mais bem
vista do que uma empresa nacional de baixo faturamento mas que produz remédios
a custo bem menor do que os importados.
Princípio 3 –
Estar afinada com a com a agenda nacional de desenvolvimento.
Uma estratégia pedagógica deve inspirar-se na realidade
humana e social de uma comunidade e na sua proposta de desenvolvimento. As
agendas de países como o Brasil e Estados Unidos ou Bélgica, por exemplo,
diferem profundamente quanto a prioridades, estratégias, processos, metas,
estilo e, principalmente, necessidades e disponibilidade de recursos e
composição de custos. Por conseguinte, estratégias, metodologias, conteúdos e
modelos que funcionam lá, podem não dar resultados aqui. Em alguns casos, podem
representar um desperdício e um desvio na construção do nosso próprio
conhecimento.
Princípio 4 – Qualquer metodologia de ensino de
empreendedorismo deve apoiar-se nas raízes culturais da comunidade, do
município, da região, do estado, do país.
O empreendedorismo é um fenômeno cultural, diz respeito
ao sistema de valores de uma comunidade, à sua visão de mundo. Não é um
conhecimento transportável universalmente, como álgebra, por exemplo. É uma
forma de ser, e portanto impregnada de emoções, valores, necessidades, hábitos,
humores, sonhos coletivos do ambiente social em que está o empreendedor.
Princípio 5 –
Ser formadora de capital social
Há o claro entendimento hoje que sem um razoável estoque
de capital social dificilmente uma sociedade irá desenvolver-se. O elemento que gera o capital social é o
empreendedor comunitário, cuja tarefa principal é promover a conectividade
entre os vários setores da comunidade e gerar a cooperação necessária ao
empreendedorismo e ao desenvolvimento.
Princípio 6 -
Ser agente de mudança cultural
O processo empreendedor jamais é puramente individual. Ao
contrário do que julga o senso comum, (e aqui a controvérsia é infindável) o
empreendedor surge em ambientes propícios. Há famílias, grupos étnicos,
regiões, cidades, países mais empreendedores que outros. A cultura é
definidora. A educação empreendedora tem como alvo não só o aluno mas
principalmente a comunidade. Ou seja, participam do processo educacional,
aprendendo e ensinando, o aluno, o professor e a comunidade. A
tarefa da educação empreendedora é principalmente o fortalecimento dos valores
empreendedores na sociedade. É dar uma sinalização positiva para a capacidade
individual de gerar valores para toda a comunidade, a capacidade de inovar, de
ser autônomo, de buscar a sustentabilidade, de ser protagonista. Ela deve dar
novas opções aos antigos conceitos de estabilidade, segurança, dependência que,
impregnados na nossa cultura, referem-se a contextos hoje inexistentes. A
estabilidade não é mais adquirida pelo vínculo a algo estável, como um emprego
no governo ou na grande empresa, mas sim na capacidade da pessoa em se adaptar
e antecipar às mudanças, mudando a si mesmo permanentemente.
Princípio 7 – Considerar
a comunidade como o verdadeiro espaço de aprendizado. A educação
empreendedora não pode ser confinada por muros.
A educação empreendedora deve fundamentar-se na intensa
conexão e cooperação com as forças vivas da sociedade. A comunidade passa a ser
fonte de aquisição de conhecimentos. A presença da comunidade na sala de aula é
essencial a qualquer estratégia pedagógica na área do empreendedorismo. O
laboratório de aprendizado do empreendedor é a comunidade, o mercado, as
relações sociais. Os livros e a educação formal são uma das fontes de
aprendizado. Não a única. Na educação empreendedora, a escola não pode ter
muros. Pelo contrário, ela deve inserir-se no seio da comunidade.
Princípio 8 –
Entender que empreender é gerar conhecimento.
Não faz sentido o processo convencional de transferência
de conhecimentos do professor para o aluno. Diferentemente de outras áreas, no
empreendedorismo quem gera o conhecimento é o aluno. Ele utiliza os
conhecimentos adquiridos para gerar novo conhecimento. Qual o conhecimento que
o aluno gera? A concepção de uma idéia, a identificação de uma oportunidade, a
verificação da validade da idéia e o planejamento para a transformação da idéia
em uma realidade de sucesso. Essas fases representam conhecimento novo, único,
porque impregnado da individualidade do empreendedor. Nenhuma dessas fases
prescinde das outras e não se pode ensinar nenhuma delas.
Confunde-se educação empreendedora com o ensino de
ferramentas e instrumentos. Saber o que é fluxo de caixa é importante para o
empreendedor. Mas ensinar como fazer fluxo de caixa não constitui educação
empreendedora.
Princípio 9 – A
metodologia deve possuir o seu próprio material de aprendizado.
Qualquer estratégia pedagógica na área de emprendedorismo
deve entender que instrumentos e ferramentas são subalternos. Muito tempo é
desperdiçado pelo ensino de técnicas, ferramentas e instrumentos que os alunos
podem aprender sozinhos. Aqui temos um problema de linguagem. Muitas vezes o
papel do professor tradicional é "traduzir" conteúdos teóricos
explicitados de forma não acessível aos alunos. Ora, é preciso entender, em
processos educacionais, que a capacidade de comunicação, de massificação de
conteúdos é tão ou mais importante do que o próprio conteúdo. Os educadores na
área de empreendedorismo devem produzir material em linguagem adequada ao
publico alvo, de tal forma que lhe seja permitido aprender sozinho. É assim que
o empreendedor faz durante toda a sua vida.
Princípio 10 –
A educação empreendedora não se propõe (porque não pode) dar respostas
A relação professor-aluno, na educação empreendedora é
vista de outra forma.
Se no ensino convencional o vínculo mestre-aprendiz tem
sido profícuo para produzir o aprendizado de formas de fazer, em que o mestre
pode assumir uma posição de tutela, porque sabe onde quer chegar e conhece o
caminho para isto, no empreendedorismo, que trata de formas de ser, a tutela e
a resposta são altamente inviáveis e prejudiciais. Por que? Porque não são
conhecimento dominado, contido em livros. O que fazer, onde chegar, como
chegar, são justamente a essência da atividade empreendedora que geralmente se
processa em contextos de indefinição, incerteza, ambigüidade. As opções feitas
pelo empreendedor no desenvolvimento do seu empreendimento definirão situações
de bons e maus resultados, de acertos e erros. E são esses últimos, os erros, a
principal fonte de aprendizado do empreendedor. A resposta não está no
"professor" (porque ele não sabe) mas no próprio empreendedor, na sua
capacidade de formular sonhos, identificar oportunidades, tecer rede de
relações, conhecer o ambiente onde irá atuar, saber auscultar, analisar,
sentir, antecipar o mercado, ter energia e capacidade de planejamento e de
realização para transformar uma idéia em algo concreto, ter liderança para
atrair e convencer pessoas a lhe ajudar a realizar o próprio sonho.
Tanto a tutela, como a resposta, na educação
empreendedora, são contraproducentes e devem ser banidas.
Princípio 11 –
Deve privilegiar o auto-aprendizado.
A tarefa da pedagogia empreendedora não é ensinar. É
criar um ambiente "cultural" em que o aluno, de forma auto-suficiente,
percebe como positivos e desenvolve valores empreendedores e aprende sobre si
mesmo e sobre o outro, e aprende a utilizar ferramentas e instrumentos.
Princípio 12 – O
professor deve assumir o papel de "organizador" de um ambiente ou
"cultura" favorável ao aprendizado.
Não se deve adotar o modelo do professor convencional na
educação empreendedora onde, mais importante do que ensinar é criar situações
de aprendizado. O professor deve ter a capacidade de estabelecer uma rede de
relações na a comunidade e convoca-la para a sala de aula, para participar do
processo educacional. Também ela, a comunidade, é alvo do processo pedagógico,
como não poderia deixar de ser. A opção de ter ou não uma cultura empreendedora
é uma decisão da comunidade e não somente da escola que, isolada, não produzirá
mudanças. Neste sentido, a comunidade terá o empreendedor que desejar ou
merecer.
Princípio 13 –
A metodologia não pode ser rígida,
"manualizada".
O professor, ou "organizador" participa intensamente no processo de
recriação da estratégia pedagógica. O papel do professor tem implicações mais
abrangentes e ricas na educação empreendedora, que respeita profundamente a sua
função e o convida a recriar, na medida que a aplica, a estratégia pedagógica.
O empreendedor irá diferenciar-se em função da cultura a que pertence. Cursos
de empreendedorismo em Blumenau, SC, e Petrolina, PE, devem ser diferentes
porque lidam com pessoas de diferentes culturas. São diferentes os alunos, o
professor, a escola, a comunidade, o contexto econômico, o sonho coletivo,
as competências. Por outro lado, o
professor ou "organizador", além de contribuir para o processo de
geração do conhecimento é também um aprendiz. Aprender a ser empreendedor é
aprender a gerar conhecimento. Não existem manuais, receitas de bolo ou
"repasses" metodológicos.
Princípio 14 – Deve
compatibilizar baixíssimo custo com alta eficácia.
Deve apoiar-se em uma segunda metodologia: a de
disseminação. É evidente que custos, em economias pobres, é uma variável
fundamental. Um projeto de ensino de empreendedorismo pode ser inviável, no
Brasil, por suas dimensões geográficas, diversidades e carências, em função da
estratégia a ser adotada.
Ao mesmo tempo que deve ser barata, tem que ser altamente
eficaz. Este é o grande desafio de quem se envolve em processos educacionais no
Brasil.
A eficácia neste caso está relacionada com o controle e
gerenciamento das seguintes variáveis:
a - Não duplicação de meios e recursos.
A rede de ensino, publica e privada, deve ser utilizada para a introdução da
educação empreendedora, utilizando-se de
investimentos já feitos
b – Velocidade e autosuficiência. Utilizar meios de multiplicação simples, que permitam
rápida disseminação, através de técnicas de formação de formadores.
c – Descentralização. Trabalhar com o
conceito de rede de geração de conhecimento e aprendizado. Os professores,
ligados em rede, são a fonte de atualização, renovação e recriação da
metodologia.
d - Não dependência de
especialistas: o conhecimento empreendedor está na comunidade, contidos nas
experiências de terceiros em todo o mundo, na criatividade contida em todo ser
humano. Toda a sociedade deve ser empreendedora. O conceito de incubadora
social é polinizante e deve ser adotado.
Princípio 15 –
Deve atingir (principalmente) as
populações carentes
A educação empreendedora não pode repetir modelos e
processos concentradores de conhecimento. Pelo contrário, se ela tem por
objetivo gerar e distribuir conhecimento, renda e poder, ela deve ser
disseminada nas camadas pobres da população, que têm demonstrado alta
capacidade empreendedora.
Princípio 16 - Não
pretender “ajustar” pessoas a um modelo ou conjunto de características.
Uma proposta de educação empreendedora deve reconhecer
que todo ser humano possui características empreendedoras. Este entendimento
certamente é chocante e polêmico, porque estamos dominados pelo mito de que o
empreendedor tem o dom ou uma formação genética favorável. Esta mesma dúvida
afligia o administrador, há 50 anos. Hoje ninguém duvida da eficácia de um MBA.
No entanto, ser empreendedor, de acordo com qualquer das centenas de definições
existentes é algo simples e acessível a qualquer ser humano. Ou seja o
empreendedor é definido como alguém capaz de gerar o auto-emprego ou uma
empresa. Isto, qualquer um pode ser.
O mito entre nós (como foi dito, importado) é que só é
empreendedor aquele que ficou rico. Este aparece na capa da revista, é o herói
da capa. Mas na nossa realidade, o herói da capa deveria ser o brasileiro que,
apesar de tudo, conseguiu gerar o seu próprio emprego. Ninguém precisa mudar
sua forma de ser para se tornar um empreendedor. Muitas estratégias pedagógicas
tentam fazer com que as pessoas adquiram certas características pesquisadas
entre os empreendedores de sucesso. E acreditam que as pessoas, ao adquirirem
tais características se qualificam para a atividade empreendedora. Mas não é
bem assim. Ninguém descobriu até hoje como ensinar a perseverança, talvez a
característica mais constante nas pesquisas. Isto porque a perseverança, como a
criatividade, o protagonismo, a capacidade de identificar oportunidades e outras características do empreendedor são
situacionais. Ou seja, o empreendedor persevera porque está apaixonado pelo seu
sonho, pela sua idéia de empreendimento. O caminho inverso não funciona.
Ninguém pode garantir que, ao aprender a perseverar (se isto fosse possível) a
pessoa se transforma em empreendedora. As características empreendedoras
apontadas pela na literatura são incontestáveis. Mas elas fluem espontaneamente
em quem está em busca do próprio sonho, justamente porque o processo de busca
libera uma a maior energia que conhecemos, constituída pela a emoção de quem
busca realizar o seu sonho. Esta é a
minha definição de empreendedor: alguém que sonha e busca transformar o seu
sonho em realidade.
Princípio 17 - Utilizar de um conceito amplo de
empreendedorismo.
O conceito de empreendedorismo extrapolou o âmbito
empresarial e entranhou-se em todas as atividades humanas. Podemos falar do
empreendedor funcionário público, do empreendedor político, no terceiro setor,
o empreendedor empregado, o empreendedor pesquisador.
Esta abordagem é necessária porque a educação
empreendedora para crianças e adolescentes não pode fazer escolhas em nome do
aluno. O propósito é que ele seja empreendedor em qualquer atividade que
escolher.
Princípio 18 –
A educação empreendedora deve eliminar a distancia entre sonho, emoção e
trabalho.
A separação
entre o sonho (vontade, desejo, projeto de vida, objetivo existencial, busca de
auto-realização) e a sua realização, pode estar na base da fragmentação, feita
no passado, em algum momento de nossa história cultural -- cujos efeitos têm
sido danosos tanto à felicidade como à capacidade de fazer dos indivíduos e,
portanto, da coletividade -- de entidades indissociáveis, como trabalho e
prazer, esforço pessoal e desejo, aprendizado e significado, auto-realização e
felicidade. Mas a ruptura mais importante se deu na dissociação entre emoção e
trabalho. A emoção é que dispara o racional, ou seja, realizar ações
desvinculadas da emoção definidora da criatividade, da integração
indivíduo-mundo, é algo que certamente violenta a natureza humana.
A educação
empreendedora deve promover o reencontro entre emoção e trabalho.
Princípio
19 - Apoiar-se em fundamentos de cooperação, rede e democracia.
Alguns ambientes são desfavoráveis ao empreendedorismo.
Por exemplo, a concentração de poder inibe a capacidade de se propor inovações,
de se desenvolver protagonismo. A ausência de liberdade constrange a expansão
do ego, limita a criatividade porque pune o erro e cerceia o espírito
empreendedor. A cooperação deve ser vista como algo essencial à construção do
capital social que é base do desenvolvimento econômico. A participação da
comunidade na definição do seu futuro, a
existência de mecanismos de resolução de conflitos despojados de desequilíbrios
de forças e preconceitos e baseados na
legitimidade do outro, qualquer que seja o outro, são elementos
constituidores do ambiente empreendedor. Sem eles, empresas, comunidades,
regiões terão dificuldades de criar o terreno fértil que irá gerar, acolher e
permitir o sucesso empreendedor.
Princípio 20 – O estudo das oportunidades
O estudo das oportunidades jamais fez
parte de algum currículo da educação formal, da pré-escola à universidade. No
entanto, hoje ele é essencial, porque é o principal conhecimento do ator
central do desenvolvimento, cujo papel é transformar conhecimentos em valores
positivos para a sociedade, quer sejam materiais ou imateriais. Ele é o
protagonista dos novos tempos. Mas as escolas ainda não sabem como prepara-lo.
Um princípio evidente: a urgência
Se tudo o que foi dito faz sentido, como tem feito para
os países que buscam o desenvolvimento, independentemente da cor política ou
preferência ideológica, a educação empreendedora deve ser propagada com
intensidade e máxima urgência. Como se concluiu em pesquisa do GEM[3], "promover o
empreendedorismo e aumentar a dinâmica empreendedora de um país deveria ser um
elemento fundamental de qualquer governo para impulsionar o bem estar econômico."